As coisas que não couberam
Foto: @enricopierroofc
A gente se perde tentando caber nos
outros — e se encontra quando começa a abrir espaço para si
Ninguém
vê o que a gente esconde para caber. O que a gente engole, dobra, silencia. Tem
partes nossas que foram ficando pelo caminho, porque não encaixavam, porque
incomodavam, porque eram demais para alguém. E, aos poucos, a gente vai se
apertando em versões menores de si mesmo, tentando fazer parecer que está tudo
certo.
Mas
não está. Porque tem um custo. E o preço de não caber inteiro é alto. São
pedaços que doem por dentro, sentimentos que a gente trancou, palavras que
ficaram entaladas. São vontades abortadas antes de nascer, sonhos empurrados
para depois, e um depois que nunca chega.
As
coisas que não couberam foram ficando em gavetas internas, que vez ou outra se
abrem sozinhas. E aí transbordam em forma de angústia, ansiedade, crises sem
nome. É o corpo avisando que tem partes dele que você abandonou. E que agora,
doem.
Ninguém
devia precisar diminuir o próprio brilho para não ofuscar alguém. Ninguém devia
se calar para manter a paz. Ninguém devia ter que se apagar para ser amado. Mas
a gente faz. Por medo de rejeição, por carência, por amor mal compreendido. Até
perceber que, no fim, o que não coube em alguém pode ser exatamente o que te
faz ser quem é.
As
coisas que não couberam merecem espaço. Merecem luz. Merecem perdão. Nãodá
parte do outro — mas da nossa. Perdão por ter escondido tanto, por ter fingido
tanto, por ter se esquecido de si. Ainda dá tempo de recolher cada parte
deixada para trás e dizer: agora você pode ficar. Agora você cabe.
@enricopierroofc

